terça-feira, 16 de novembro de 2010

Crítica estética do desfile de Ronaldo Fraga, Verão 2007- “A cobra: ri” Baseado nas teorias estéticas de Kant.


Croquis Bordados de Ronaldo Fraga


Desfile: http://www.youtube.com/watch?v=wv5jyRXBwyg
















Em seu segundo desfile inspirado na literatura brasileira, Ronaldo Fraga não deixou a desejar em nenhum ponto. Ainda mais deslumbrante que o primeiro, inspirado em Carlos Drummond de Andrade, no inverno 2005 (http://chic.ig.com.br/materias/344501-345000/344876/344876_1.html ou entre na coleção “todo mundo e ninguém” no site de Ronaldo Fraga: http://www.ronaldofraga.com.br). Nesse desfile do verão 2007, Ronaldo traz às passarelas as cores do sertão, descritas por Guimarães Rosa em o “Grande Sertão Veredas”, dirigido exemplarmente por Roberta Mazola, produtora da “São Paulo Fashion Week”.

Para concretizar o espetáculo de cores e vida, Ronaldo juntou-se a ninguém menos que Rodrigo Câmara, talentosíssimo fotógrafo e artista plástico carioca que possui um estúdio no charmoso bairro de Santa Tereza, onde desenvolve produções fotográficas nos ramos da publicidade, jornalismo e moda. Depois de 16 horas de trabalho, Rodrigo e sua equipe montaram a passarela e cenário com serragens coloridas para formar o desenho de uma cobra enrolada num chão de bichos, flores, caveiras e estrelas. O desfile, inclusive, fez parte das comemorações ao cinquentenário da obra de Guimarães e inspiração do desfile: Grande Sertão Veredas.

Para recriar o universo de Guimarães, nesse desfile, batizado de “A cobra: ri”, Ronaldo usou elementos que remetem à beleza do sertão: pássaros, azuis, beges, folhas, estrelas e lua do céu do sertão em muitos bordados em camisas, vestidos com aplicações lindíssimas, volumes e batas. As criações de Ronaldo dizem muito, traduzem sentimentos e emocionaram a platéia do São Paulo Fashion Week e, mesmo assim, são totalmente urbanas e “usáveis”, sem deixar o conceito de lado.

Segundo Ronaldo, apesar do universo de Guimarães ser seco, não existe a necessidade do desperdício de detalhes, beirando o limpo. A coleção fala do sertão, que embora seja um universo seco, cheio de armadilhas, é também cheio de cores, cheiros e texturas (http://chic.ig.com.br/materias/377501-378000/377732/377732_1.html).

Na maioria de seus desfiles, Ronaldo não dá nenhum detalhe antes de seu espetáculo acontecer, o que gera um incrível sentimento de inquietação e ansiedade da parte do público, já que as pessoas vão sem esperar o que vai acontecer. A experiência estética gerada pelo desfile de Ronaldo é tão grande que entra no campo da finalidade, ultrapassando o fim, levando a uma relação mais pessoal e especial do público com suas criações. O público primeiro sente suas criações e sua mensagem, depois conceitua, ao invés de criar expectativas a respeito de um tema antes do desfile. A imaginação flui, tornando as obras de Ronaldo possuidoras de uma beleza quase livre. Quando uma pessoa vê um desfile de Ronaldo, a primeira idéia que passa por sua cabeça é mostrá-la para alguém próximo, para que compartilhe esse sentimento de deslumbre e emoção.
Nessa coleção, os vestidos são curtos com os joelhos à mostra e os decotes profundos. Os tecidos são bases de algodão, malhas “stonadas”, crepes e cambraia sedosa, com desenhos de bichos, como cobras, tamanduás e cabeças de gado, além de buritis. A silhueta é afastada do corpo, volumosa, e a peça chave é o vestido, inclusive sobreposto a bermudas, shorts, calças e saias. A cartela de cores é dividida em três: cores do amanhecer (branco, amarelo, cor de giz, encardidos e pálidos), cores do dia (vermelho, verde-água, laranja e terra) e cores da noite (azul-marinho, turquesa e charuto). Nas estampas, cobras e flores.

A maquiagem marca bastante as maçãs do rosto, dando um efeito queimado pelo sol do sertão. Os cabelos são desgrenhados e presos, porém com vários enfeites verdes brancos e vermelhos.

A combinação de bata com bermuda, levemente cobrindo o joelho, com bolso mais estruturado e acompanhado de lapela, aparece muito. Nas blusas, o recorte redondo na parte de cima das costas, enfeitado com uma gola como as das roupas de criança, aparece em vários dos modelos, sempre soltinhos. Brilhos localizados também aparecem na coleção, que mistura estampas no look e é apresentada em blocos coordenados por cor, seguindo o enredo do tema. Ronaldo quis juntar o erudito com o popular nessa coleção.

"Viver é um negócio perigoso" foi a frase que deu início ao desfile, sobre o fundo musical. Esta frase, que se repete diversas vezes ao longo do livro, tema da coleção, foi uma frase conceito para coleção de Ronaldo, sem dúvidas. Durante todo o desfile, trechos da obra de Guimarães são citados e, por fim, o segredo do personagem Diadorim é revelado, levando ao fim do desfile. Ronaldo aparece logo em seguida, arremessando livros de Guimarães Rosa para a plateia. Para fechar com chave de ouro, as peças desenvolvidas foram leiloadas e o valor arrecadado revertido em fundos para ações no Museu Guimarães Rosa, em Cordisburgo (município de Minas Gerais, terra natal de Guimarães Rosa).

"Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando".(Guimarães Rosa)

Ficha:
Cores: Amarelo, giz, argila, salmão, rosa, verde-água - desbotados pelo sol da manhã
Vermelho e laranja- iluminados pelo dia
Marinho, turquesa, charuto - molhados pelo sereno da noite

Tecidos: muito algodão, crepe, malha, sarja e cambraia sedosa.
Formas: soltas e voadoras
Sapatos: masculinos são Jaílson Marcos, femininos Feng
Direção do desfile: Roberta Mazola
Cenografia: Rodrigo Câmara
Trilha: Ronaldo Gino
Beleza: Cida nogueira e equipe com produtos Sebastian
Assessoria de imprensa: na mídia
Design gráfico: desiglandia

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Resumo dos Capítulos 6 e 8 do livro Introdução à Estética, de Ariano Suassuna

Teoria Kantiana da Beleza

(Kant  lançou uma luz sobre o papel da imaginação na arte)

O Juízo de Conhecimento (características objetivas baseadas nas características do objeto) e o Juízo de Gosto (ultra subjetivo)

Kant, em vez de tentar solução dos problemas estéticos- entre os quais se destacam o da Beleza e o da Arte- tratou de demonstrar que eles eram insolúveis. A impossibilidade de resolver os problemas estéticos adviria, em primeiro lugar, da diferença radical existente entre os juízos estéticos (ou juízos de gosto), e os juízos de conhecimento.
Os juízos de conhecimento emitem conceitos que possuem validez geral, por se basearem em propriedades do objeto. Quando eu digo ‘’ esta rosa é branca’’, estou emitindo um juízo de conhecimento: o resultado dele é um conceito indiscutível, porque baseado em propriedades objetivas da rosa.
Já os juízos estéticos não emitem conceitos: decorrem de uma simples reação pessoal do contemplador diante do objeto, e não de propriedade deste. “Esta rosa é bela” exprime somente o fato de que tal rosa me agrada: eu não posso exigir concordância geral.

O juízo estético e o Juízo sobre o agradável

Quando digo “este alimento é bom” estou dizendo simplesmente que sinto uma sensação agradável baseado  numa pura sensação subjetiva minha.

“O agradável é aquilo que agrada aos sentidos, na sensação”

-          Agradável/ Gracioso: ligada ao sensorial, experiência sensorial que não diz muito, não precisa ser interpretada, sensação de saciedade.
-          Estético: experiência incrível, necessidade de mostrar ao outro e que ele concorde com sua opinião.

Primeiro Paradoxo Kantiano sobre a Beleza        *(Por que todo mundo acha a rosa bela?)

# Juízo de conhecimento: Esta rosa é branca (conceito, validez geral)

# Juízo sobre o agradável: Este alimento me agrada (sensação, reação puramente pessoal do sujeito, ausência de validez geral)

# Juízo estético: Esta rosa é bela. (sensação agradável do sujeito, ausência de conceito, mas exigência de validez geral – quer que todos achem a rosa bela, como ele).

O juízo estético distingue-se do juízo sobre o agradável porque, quando um sujeito diz “ Esta rosa é bela”, não se contenta que isso tenha validade somente para ele.
Para Kant, a Beleza, ou melhor, a satisfação determinada pelo juízo de gosto é aquilo que agrada universalmente sem conceito.

Segundo Paradoxo Kantiano sobre a Beleza  (necessidade de mostrar ao outro a beleza da rosa e que o outro concorde)

A primeira característica da Beleza: quando o sujeito emite um juízo estético, não esta exprimindo um conceito decorrente das propriedades do objeto, mas apenas uma sensação de prazer (ou desprazer) que ele experimentou diante do objeto. No entanto, o sujeito exige sempre para esse juízo estético, sem conceito, o assentimento mais geral possível, a validez universal.
Pergunta Kant: qual a razão disto? Por que o juízo estético, eminentemente subjetivo, exige paradoxalmente, o consenso universal?
O motivo disso é que a Beleza, a satisfação determinada pelo juízo de gosto, é resultante de faculdades necessariamente comuns a todo homem, a sensibilidade, ou imaginação, aliada talvez ao entendimento.

“O sentimento estético apóia-se, portanto, no livre acordo dos elementos que possuem validez geral e são necessários para a apreensão de todo objeto. Isto é o que autoriza o sentimento estético a pretender, também, a validez geral.”

A segunda característica da Beleza : satisfação determinada pelo juízo de gosto.  “É uma necessidade subjetiva que nos aparece como objetiva”
È natural que o sujeito, ao experimentar uma sensação de prazer diante de um quadro, por exemplo, exija, para seu juízo, o assentimento de todos, a aprovação geral.

Terceiro Paradoxo Kantiano sobre a Beleza  (a diferença entre o resultado de experiências com expectativa e sem expectativa)

Quando uma pessoa se alimenta, tem um interesse físico a satisfazer, de modo que o prazer causado por esta sensação é um prazer interessado. Mas quando experimentamos uma sensação de alegria diante de uma rosa, o prazer é de natureza diferente, é uma alegria gratuita e desinteressada.
Kant estuda o ato de consciência que julga a Beleza: O julgamento de gosto é puramente contemplativo, indiferente à existência de um objeto, une somente sua natureza ao sentimento de prazer e desprazer. Mas esta contemplação mesma não é regida de acordo com conceitos. O agradável, a beleza e o bem são satisfações, mas somente aquela dada pelo gosto da Beleza é uma sensação desinteressada e livre.

Quarto Paradoxo Kantiano sobre a Beleza  (a diferença entre fim e finalidade)

“Todo fim, considerado como principio de satisfação, comporta sempre um interesse como motivo de julgamento, trazido sobre o objeto do prazer”

O contrário ocorre com a finalidade. Finalidade é, para Kant, “ alguma coisa que o sujeito descobre no objeto e que tem o dom de excitar harmoniosamente suas faculdades”. Temos então o fim ligado ao objeto e sua destinação útil; e finalidade, ligada ao sujeito e à sensação de prazer harmonioso que ele experimenta.
O fim é ligado a propriedade do objeto, e o juízo estético puramente subjetivo. Nenhum prazer ligado ao fim pode ser estético, porque todo ele é interessado.
A diferença essencial que existe entre o fim e a finalidade é, então, que o primeiro se liga a propriedades e à destinação útil do objeto, e a segunda liga-se mais à forma e ao sentimento de prazer ou desprazer que desencadeia no sujeito, O prazer causado pela finalidade é decorrente da “simples apreensão da forma do objeto pelo sujeito”; é um julgamento estético sobre a finalidade do objeto, ao contrário do julgamento sobre o fim, que não é estético, mas interessado.

# Fim: funcionalidade, útil para alguma coisa, fica no meio do agradável, objetivo. Não pode ser estético, porque é sempre interessado.

# Finalidade: surge no ato da experiência estética. Não se parte dela, não se espera nada. Sentir o objeto, depois conceituar. Desinteresse.

Beleza Livre e Beleza Aderente

Pode-se dizer que a distinção entre Beleza livre e Beleza Aderente se deriva da anteriormente explanada entre finalidade e fim. São três graus de utilidade decrescente e gratuidade crescente: o dos objetos puramente ligados ao fim e a sua destinação útil (como um trem); dentro do campo da finalidade, objetos que representam coisas (Arte Figurativa) e dos que representam simples formas (Arte Abstrata). Kant acha que, quando olhamos um trem, não podemos nunca olha-lo desinteressadamente, porque temos sempre em vista o fim útil ao qual ele se destina. Quando olhamos um quadro, é outra coisa: temos em vista simplesmente o prazer do contemplador. Mesmo aí, quando se representa um cavalo, por exemplo, a contemplação da Beleza é turvada pelo conceito que fazemos de um cavalo, enquanto que se o quadro representa somente formas geométricas, a contemplação é mais desinteressada e livre, portanto mais pura. È por isso que ele chama a Beleza ligada às artes figurativas de “ aderente”, porque ela adere ao conceito que fazemos de coisas representadas; e chama de “livre” a que se liga as artes abstratas, que representam formas puras.
A Beleza livre não supõe, portanto, nenhum conceito do que seja o objeto; a Beleza aderente não só supõe tal conceito, mas supõe ainda a perfeição do objeto em relação a esse conceito.


Teoria Hegeliana da Beleza


A Beleza como Manifestação da Idéia

“A Beleza se define como a manifestação sensível da idéia”

De acordo com Hegel, “a unidade da idéia e da aparência individual é a essência da Beleza e de sua produção na Arte”. A Idéia, em Hegel é o mesmo que o Infinito ou Absoluto, em Schelling, veremos que tanto faz definir a Beleza como “o Infinito representado através do finito” ou como “ a Idéia representada através do sensível.”.
Hegel aceita também o fundamento platônico da explicação da Beleza:
“A Beleza é um certo modo de exteriorização e representação da Verdade. Deve-se considerar não os objetos particulares qualificados belos, mas a Beleza”.

Beleza e Verdade

Entretanto, Hegel afasta-se de Platão e de Schelling para distinguir claramente a Beleza da Verdade:

“Existe uma diferença entre a Verdade e a Beleza. A Verdade é a Idéia enquanto considerada em si mesma, em seu princípio geral e pensada como tal. A Beleza se define como a manifestação sensível da Idéia.”

Hegel critica violentamente a visão Kantiana da Beleza como algo de natureza não conceitual. Pensa, pelo contrário: só a Verdade é conceituável, pois só ela se fundamenta no conceito absoluto, ou, mais exatamente, na Idéia. Sendo a Beleza um certo modo de exteriorização e representação da Verdade, por todas as suas faces ela se oferece ao pensamento conceitual, quando este possua, verdadeiramente, o poder de formar conceitos.

A Idéia e o Ideal

A Idéia, como tal, é a própria Verdade, mas a Verdade em sua generalidade ainda não objetivada. A Idéia como Beleza artística tem como destinação ser uma realidade individual. A Idéia, enquanto realidade moldada a seu conceito, é o Ideal.
A Idéia, ou Espírito Absoluto, “ comunica à Natureza toda a plenitude de seu ser”, enquanto considerada em si mesma, é a Verdade.

Liberdade e Necessidade

Liberdade é aquilo que a subjetividade contém e pode captar em si mesma de mais elevado. A liberdade é a modalidade suprema do Espírito. De um lado, a liberdade é o domínio de tudo o que é universal e autônomo- as leis universais, o Direito, o Bem, a Verdade, etc. Mas, por outro lado, é preciso admitir as inclinações do homem e seus sentimentos, as suas paixões, a tudo o que o coração do homem contém de individual.

O estado natural do homem é a contradição e o dilaceramento, não só perante a natureza, mas, dentro de si mesmo, entre a parte mais alta e mais nobre de seus espírito e suas paixões.
A Verdade suprema, a Verdade enquanto tal, constitui a solução da oposição e da contradição supremas. Aí, a oposição da liberdade e da necessidade, do Espírito e da Natureza, do saber e do objeto, da lei e dos impulsos perdem seus valores e seu poder de oposição e contradição.

As três Etapas para o Absoluto

A Arte, a Religião e a Filosofia são as etapas fundamentais neste caminho do homem à procura do Absoluto. À Arte, cabe a espiritualização do sensível. À religião, compete a captação interior daquilo que a Arte faz contemplar como objeto exterior. È como se a primeira representasse a tese, da qual a segunda seria a antítese, cabendo à Filosofia o papel de síntese entre as duas. “A arte e a Religião são unidas na Filosofia”.
Para Hegel, tudo que é real é cognoscível. O  mundo dilacerado entre dois extremos> de um lado, as coisas, de outro, a idéia absoluta. O homem é uma espécie  de campo de batalha entre a Natureza e Deus.
A Arte é o escalão inicial, através do qual, nesse processo de espiritualização do mundo, o homem procura humanizar as coisas, inserindo a Idéia no sensível. Ao espírito religioso, cabe criar as condições necessárias de interioridade, para que o homem possa acolher dentro de si a Idéia, captada no sensível, onde a Arte introduziu. Daí resulta, dentro do espírito humano, uma oposição entre o que existe de mais nobre e puro no homem, e o sensível, mesmo espiritualizado, que lhe foi oferecido pela Arte. Cabe à Filosofia destruir essa oposição.


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Crítica Estética sobre vestido Viktor and Rolf, usando o pensamento Aristotélico e Platônico como base

Vestido Viktor and Rolf (primavera 2010)


Quando analisamos o look de Viktor and Rolf (primavera 2010), podemos seguir diferentes linhas de raciocínio quando se diz respeito a beleza.  Aqui,  discutiremos Aristóteles e Platão e suas formas de ver  a beleza neste modelo de vestido que é, no mínimo, excêntrico.
Quando observamos o vestido em questão,  a primeira reação que temos é de estranheza, chegando a desconforto para alguns observadores.  Acredito que esta foi a real intenção dos estilistas, que deram um toque especial a um vestido que em sua estrutura, deveria ser um clássico do tapete vermelho. Os ‘’rombos’’ na saia de tuli, usado inclusive pela cantora Katy Perry durante a entrega do Europe Music Awards, chegam a ser surreais.
Podemos usar este detalhe da peça como uma ponte ao pensamento Platônico da decadência da beleza, quando um vestido considerado belo pela maioria torna-se estranho ou até mesmo feio ao olhar do público devido a detalhes que remetem a ruína. Pra Platão, a beleza corpórea esta sujeita a ruína e decadência, e este vestido transmite esta idéia com primor.  A princípio, o traje poderia ser usado por uma gama maior de mulheres que desejam um vestido de gala, porém com esses vestígios de destruição, o modelo passa a ser usado apenas por pessoas mais ousadas.
A Verdade, o Bem e a Beleza são as essências superiores, ligadas diretamente ao ser, segundo o filósofo Platão. Podemos relacionar  o vestido criado por Viktor em Rolf a este pensamento quando ligamos a estrutura do vestido à beleza superior, e as ruínas como a decadência deste mundo, que vive a sombra dessa beleza superior.
Segundo a visão aristotélica, a análise torna-se menos idealista, e ‘’coloca os pés no chão’’. Segundo este filósofo, a beleza de um objeto não depende da sua maior ou menor participação em uma beleza suprema,  no mundo supra sensível das essências puras. A beleza é uma propriedade do objeto e consiste principalmente  na harmonia das partes de um todo que  possua grandeza e medida. As características principais da beleza, segundo ele, seriam a harmonia ou ordem, grandeza e proporção. ‘’A fórmula que traça as fronteiras da Beleza é a unidade na variedade’’.
O vestido em si, é uma peça harmoniosa e grandiosa, com volumes e cores vibrantes. Há harmonia e proporção em cada detalhe, com traços simétricos e silhueta agradável ao olhar. Quando o vestido é ‘’ destruído’’ com cortes que mais parecem furos de balas de canhão, a sensação passa da harmonia para a desarmonia instantaneamente, porém permanecendo na linha de pensamento aristotélico que, ao contrário de Platão, considera a desordem e feiúra como elementos aptos a estimular a criação da beleza. Enfim, há um conflito na peça entre harmonia e desordem.


(texto produzido por Isabela Seabra e Mariana Jeveaux)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Crítica Estética Quadro/Produção

Dama com Arminho, Leonardo Da Vinci

Retirado da revista Vogue, agosto 2010
   Desde sempre, as pessoas comparam os méritos e técnicas de várias escolas de arte. Essa comparação acabou por estimular os artistas a ousar, experimentar novos métodos e criar uma variedade de estilos. Dentro da arte grega, essa variedade é ainda mais valorizada, havendo uma mistura de diferentes estilos, com características de leveza e graça. Não existe um corpo humano tão perfeito e simétrico quanto os reproduzidos pelos artistas gregos.
   O estilo artístico predominante na Grécia antiga é a antiguidade clássica, que veio substituindo o arcaico. Nele predomina o naturalismo e o pensamento filosófico foi amplamente discutido. Futuramente, no fim do século XIII (até aproximadamente meados do XVII) podemos identificar o período conhecido como Renascimento. Esse nome foi dado ao período relacionando a redescoberta das referências culturais da antiguidade, trazendo à tona novamente o ideal naturalista e humanista presente na antiguidade clássica. Os homens renascentistas bebem desta fonte e dela tiram suas inspirações para sua pintura, arquitetura e literatura.
   No período renascentista, na Itália, Leonardo da Vinci se destaca , podendo ser descrito como um dos maiores pintores de todos os tempos e dotado de inúmera quantidade de talentos (cientista, matemático, inventor, arquiteto, pintor etc). Era o retrato do homem renascentista.
   Um de seus quadros mais bonitos, em minha opinião, o retrato de Cecília Gallerani ( Senhora com Arminho, 1490, óleo sobre madeira), se trata da amante mais importante de Ludovico Sforza (foi um membro da família Sforza de Milão, Itália. Foi o segundo filho de Francesco Sforza. Protegeu Leonardo da Vinci e outros artistas. Foi responsável por encomendar “A Ultima Ceia” a Da Vinci, entre outras obras.) .
    O quadro concentra todas as inovações de Leonardo na época: Cecília, vestida e penteada de acordo com a moda da época, a representação do rosto virado em uma posição de três-quartos, o gesto da mão, a definição da forma pela luz e a representação do movimento interrompido (Janice Shell, Léonard de Vinci, rmn, 1993, p. 32) visando uma estrutura helicoidal (leonardo da Vinci. Barueri, SP: Editorial Sol 90, 2007. Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura). Cecília parece reagir à presença de alguém fora da pintura, em um movimento de giros de cabeça e tronco, o arminho de tamanho um tanto exagerado, repete o gesto, a mão curvada elegantemente corresponde, por sua vez, ao movimento do animal, criando um sintonia entre modelo e o arminho (Frank Zollner, Leonardo, 2006, Tashen)
   O arminho, era considerado um símbolo de pureza e virtude, mas também era uma alusão ao amante de Cecília Gallerani. Foi pintado na fase em que Da Vinci foi o artista da corte de Milão. Há um dinamismo neste quadro, devido ao olhar de Cecília para uma direção, e seu tronco deslocado para o lado contrário. O arminho, em suas mãos remete a pureza e modéstia pois segundo uma antiga lenda, este animal abomina sujeita e come apenas uma vez por dia. Em duplo sentido, remete ao Ludovico, que utilizava o animal como seu emblema.
   Quando comparamos este belo retrato as características da antiguidade clássica, a primeira referência a saltar os olhos é a cor. O quase marfim da pele, o preto no fundo, o vermelho, azul e castanhos, são cores de referência da estética clássica, assim como as medidas proporcionais e a impressão de movimento de Cecília acariciando o arminho, além da harmonia entre ela e o animal.
   A utilização da madeira como ‘’base’’ para o quadro, até, pode ser considerada referência de material da antiguidade clássica.  Há também um leve sorriso no rosto de Cecília, dando um ar de graça neste quadro. Além disso, indo mais adiante nestas características, o simples fato de pintar um retrato já remete ao homem no centro de tudo, no caso do quadro citado, a perfeição da representação humana.
   O quadro se destaca também, no quesito formas. O triângulo formado pela prega na manga do vestido de Cecília chama atenção, principalmente devido ao contraste do forro amarelo com o tecido interno vermelho. Seu decote, pode ser dito como quadrado, remetendo aos padrões geométricos da arte clássica.

   Contemporaneamente, comparando uma produção de moda, por exemplo, à estética clássica, podemos perceber alguns pontos de intercessão entre essas características do passado, e do presente.
    Usando uma produção da grife Tigresse (marca paulista inaugurada em 2009 por Renata Figueiredo que utiliza basicamente fibras naturais como linho, seda e algodão e começou no mercado vendendo t-shirts) Primavera/ Verão 2011 como referência, é possível analisar diversos aspectos em comum com a antiguidade,  até mesmo com o quadro de Da Vinci.
   As mulheres como centro remetem, assim como no quadro de Da Vinci, o homem como elemento principal e central. Há relação entre as modelos e a natureza, com folhagens, grama e flores no fundo; como um cenário, ligando a produção diretamente ao naturalismo.
   A leveza dos tecidos também é um ponto ressaltado na produção, que remete imediatamente a antiguidade, assim como as cores das roupas: azul, ocre, marfim. As diversas texturas dos tecidos e os traços orgânicos reforçam ainda mais esse link antiguidade/presente. O equilíbrio transmitido pela foto, por fim, dá ainda mais ênfase ao link da estética clássica à produção contemporânea.

Tabela de Valores da Arte na Antiguidade Clássica

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Capítulo 4- Teoria Aristotélica da Beleza (Ariano Suassuna)

   Aristóteles abandona inteiramente o idealismo platônico, no que se refere à Beleza como em outros campos. Segundo seu pensamento (“a filosofia natural do espírito humano”, como chama Bergson) a beleza de um objeto não depende de  sua maior ou menor participação numa beleza suprema, no mundo supra sensível das Essências Puras. Decorre, apenas, de certa harmonia, ou ordenação, existente entre as partes desse objeto entre si e em relação ao todo.
   Aristóteles afirma claramente, na Retórica, que uma mulher bonita e bem proporcionada, mas pequena, pertence ao campo do Gracioso, mas não ao do Belo, que exige, entre outras coisas, grandeza.
A definição aristotélica de Beleza foi dada de passagem no capitulo VII da Poética. Diz ele:

“A Beleza, seja a de um ser vivo, seja a de qualquer coisa se componha de partes- não só deve ter estas partes ordenadas mas também uma grandeza que obedeça a certas condições”
(Poética, tradução portuguesa de Eudoro de Souza, Lisboa, 1951)

   Aristóteles parece ter pressentido que a Beleza incluía várias outras categorias além do Belo.
   De acordo com os conceitos expressos na Poética, as características essenciais da Beleza seriam a ordem, ou harmonia, assim como a grandeza. Mas, influenciado pelo conceito grego de Beleza, Aristóteles se preocupa com a medida e a proporção, e é por isso que se refere à grandeza que obedece “a certas condições”:

“O belo consiste na grandeza e na ordem, portanto um organismo vivo pequeníssimo não poderia ser belo, pois a visão é confusa quando se olha por tempo quase imperceptível, e também não seria belo sendo enorme, porque faltaria a visão de conjunto, escapando à vista dos espectadores a unidade e a totalidade”

   Essa referência à harmonia das partes de um todo – unidade e totalidade – veio aportar na célebre fórmula dos aristotélicos: “A Beleza consiste em unidade na variedade”.
   Para Aristóteles, o mundo, vindo do caos, passou a ser regido por uma harmonia. Mas é como se ainda restassem vestígios da desordem anterior, e parece-nos como se o mundo e os homens estivessem sempre numa luta incessante para levar adiante a vitória incompleta da harmonia sobre o caos. Esta concepção do mundo e da vida é fundamental no pensamento aristotélico.

 O conflito entre Harmonia e Desordem

   Aristóteles admitia a desordem e a feiúra como elementos aptos a estimular a criação da Beleza, através da Arte.
   A grande contribuição de Aristóteles para a Estética foi, primeiro, a de retirar a Beleza da esfera ideal em que a colocara Platão. Isso faz da beleza uma propriedade do objeto, propriedade particular sua, e não recebida como  por empréstimo de uma luz superior, como queria Platão.
   È sabido que os pensadores antigos excluíam o Feio de suas cogitações sobre a Beleza e a Arte, considerando-o  estranho ao campo estético. O Feio, encarado por Aristóteles como uma desarmonia, é então, expressamente incluído no campo estético.

Aspecto subjetivo da Beleza

   Ao lado dessa definição objetiva da Beleza, Aristóteles encara as repercussões que ela desencadeia no espírito do contemplador: “Beleza é aquele bem que é aprazível somente porque é bem. Isto é, a Beleza é o objeto que agrada ao sujeito pelo simples fato de ser apreendido e fruído”.
   Aqui, Aristóteles examina o espírito do contemplador ao se colocar diante da Beleza, chegando à conclusão de que o prazer estético decorre da simples apreensão -gratuita e sem esforço- do objeto, pelo espírito do sujeito.
   A contribuição mais importante de Aristóteles, quanto o a essa parte da essência da Beleza, foi tentar uma definição objetiva dela do ponto de vista realista e sem recorrer à outra coisa para explica-la que não o próprio objeto. Platão e os platônicos, com os olhos fixos apenas no que a Beleza tem de transcendental, viram na beleza das coisas corpóreas sombras da Beleza divina. Aristóteles plantou os pés na terra, e olhou para as coisas. Foi mal entendido pela maioria, que viu no seu pensamento alguma coisa que ele nunca afirmou: por exemplo, que a Arte devia imitar estreitamente a vida, sendo o realismo um “verismo” dogmático e mesquinho.

Pontos Fundamentais do Pensamento Aristotélico

    Assim, resumindo, pode-se dizer que, para Aristóteles, a Beleza é uma propriedade do objeto e consiste, principalmente quando aparece como Belo, na harmonia das partes de um todo que possua grandeza e medida. As três características principais da Beleza, são, portanto, harmonia, grandeza e proporção. A fórmula que traça as fronteiras da Beleza é “a unidade na variedade”.
   A arte é, mais, um depoimento do mundo, contido numa outra realidade, transfigurada. A realidade contém verdades tão altas e nobres quanto as que o idealismo pressente, transferindo-as porém exclusivamente para o mundo superior das essências.
   O mundo é regido por uma harmonia que se reencontra na Arte e no conhecimento. O pensador - seja cientista ou filósofo- procura encontrar na realidade os rastros dessa harmonia, os quais evidenciam, através de relações, as leis do mundo. O artista procura recria-las num universo em que a realidade se reconheça, transfigurada.


(Resumo do texto “Teoria Aristotélica da Beleza”, Xerox entregue em sala de aula.
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 2009.)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Jeans Destroyed (com as alterações necessárias!!!)

Mary Kate Olsean
Sarah Jessica Parker, Rachel Bilson e Kate Beckinsale
Sabe-se que a calça jeans, por ser um elemento versátil l, tornou-se uma peça super popular no mundo e no mercado da moda. Sua utilização em larga escala, é atribuída a sua durabilidade, e por ser um tecido de alta resistência, originalmente eram usadas por homens que usavam a força no trabalho (trabalhadores braçais).
O conceito do jeans muda quando deixa de ser visto como algo meramente útil e passa a ser visto como peça chave para  uso cotidiano.Com a inserção do poliéster e elastano em sua composição, houve melhora no caimento levando à maior valorização das curvas femininas.
Há outra mudança de valor simbólico do jeans que foi gerada pelo advento do movimento punk, por volta de 1977.A vestimenta tradicional ( que na verdade nada tinha de tradicional) deste movimento possuía como um de seus itens a calça jeans rasgada.O rasgo, em calças ou em qualquer outra peça, possuía conotação de descuido e desleixo, e sendo os "punks" contestadores natos, utilizaram do rasgo e da roupa puída como um grito contra os valores sociais da época, que nada tinham a ver com roupas detonadas, rasgões e rebites. O jeans rasgado, aqui, simboliza o protesto, a anarquia, a não adequação as regras da sociedade.
Hoje em dia temos vários tipos de lavagens e modelagens possíveis para a calça jeans, e podemos transitar do modelo mais clássico ao mais detonado e rasgado. Essa possibilidade se deu ao grande movimento do mercado de moda e a sua mutabilidade, sempre trazendo à tona diferentes fontes e referências culturais, trazendo o passado para o presente (com novas interpretações). Além disso, é claro que a publicidade dá o seu "empurrãozinho" para que o nosso desejo de consumo esteja ali, sempre latente. Vale salientar que o desejo por uma calça rasgada não se restringe as pessoas que possuem estilo alternativo: a moda mistura o jeans rasgado com um salto Louboutin, bolsa Channel e sobretudo Burberry sem problema algum.
A atitude rebelde do rasgo virou, enfim, ícone adorado e aderido pela maioria. Passou de contestação a símbolo fashion. O rasgado, agora chamado de destroyed, simboliza a mistura do despojamento a sofisticação.
Há ainda quem diga que é necessária certa atitude para aderir o rasgo e há quem diga que aquele rasgão apareceu ali sem querer (mentira! rasgou que nós sabemos!). Mentiras à parte, sabemos que a atitude "to-nem-aí" na moda se mostra mais forte do que nunca, e parece que veio pra ficar (pelo menos mais uma estação!).

 (Texto produzido pelo grupo: Carolina Bosco, Isabela Seabra, Marcela Cury e Mariana Jeveaux)

Jeans rasgado ''em casa''

Balmain, fall/winter 2009