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Dama com Arminho, Leonardo Da Vinci |
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Retirado da revista Vogue, agosto 2010 |
Desde sempre, as pessoas comparam os méritos e técnicas de várias escolas de arte. Essa comparação acabou por estimular os artistas a ousar, experimentar novos métodos e criar uma variedade de estilos. Dentro da arte grega, essa variedade é ainda mais valorizada, havendo uma mistura de diferentes estilos, com características de leveza e graça. Não existe um corpo humano tão perfeito e simétrico quanto os reproduzidos pelos artistas gregos.
O estilo artístico predominante na Grécia antiga é a antiguidade clássica, que veio substituindo o arcaico. Nele predomina o naturalismo e o pensamento filosófico foi amplamente discutido. Futuramente, no fim do século XIII (até aproximadamente meados do XVII) podemos identificar o período conhecido como Renascimento. Esse nome foi dado ao período relacionando a redescoberta das referências culturais da antiguidade, trazendo à tona novamente o ideal naturalista e humanista presente na antiguidade clássica. Os homens renascentistas bebem desta fonte e dela tiram suas inspirações para sua pintura, arquitetura e literatura.
No período renascentista, na Itália, Leonardo da Vinci se destaca , podendo ser descrito como um dos maiores pintores de todos os tempos e dotado de inúmera quantidade de talentos (cientista, matemático, inventor, arquiteto, pintor etc). Era o retrato do homem renascentista.
Um de seus quadros mais bonitos, em minha opinião, o retrato de Cecília Gallerani ( Senhora com Arminho, 1490, óleo sobre madeira), se trata da amante mais importante de Ludovico Sforza (foi um membro da família Sforza de Milão, Itália. Foi o segundo filho de Francesco Sforza. Protegeu Leonardo da Vinci e outros artistas. Foi responsável por encomendar “A Ultima Ceia” a Da Vinci, entre outras obras.) .
O quadro concentra todas as inovações de Leonardo na época: Cecília, vestida e penteada de acordo com a moda da época, a representação do rosto virado em uma posição de três-quartos, o gesto da mão, a definição da forma pela luz e a representação do movimento interrompido (Janice Shell, Léonard de Vinci, rmn, 1993, p. 32) visando uma estrutura helicoidal (leonardo da Vinci. Barueri, SP: Editorial Sol 90, 2007. Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura). Cecília parece reagir à presença de alguém fora da pintura, em um movimento de giros de cabeça e tronco, o arminho de tamanho um tanto exagerado, repete o gesto, a mão curvada elegantemente corresponde, por sua vez, ao movimento do animal, criando um sintonia entre modelo e o arminho (Frank Zollner, Leonardo, 2006, Tashen)
O arminho, era considerado um símbolo de pureza e virtude, mas também era uma alusão ao amante de Cecília Gallerani. Foi pintado na fase em que Da Vinci foi o artista da corte de Milão. Há um dinamismo neste quadro, devido ao olhar de Cecília para uma direção, e seu tronco deslocado para o lado contrário. O arminho, em suas mãos remete a pureza e modéstia pois segundo uma antiga lenda, este animal abomina sujeita e come apenas uma vez por dia. Em duplo sentido, remete ao Ludovico, que utilizava o animal como seu emblema.
Quando comparamos este belo retrato as características da antiguidade clássica, a primeira referência a saltar os olhos é a cor. O quase marfim da pele, o preto no fundo, o vermelho, azul e castanhos, são cores de referência da estética clássica, assim como as medidas proporcionais e a impressão de movimento de Cecília acariciando o arminho, além da harmonia entre ela e o animal.
A utilização da madeira como ‘’base’’ para o quadro, até, pode ser considerada referência de material da antiguidade clássica. Há também um leve sorriso no rosto de Cecília, dando um ar de graça neste quadro. Além disso, indo mais adiante nestas características, o simples fato de pintar um retrato já remete ao homem no centro de tudo, no caso do quadro citado, a perfeição da representação humana.
O quadro se destaca também, no quesito formas. O triângulo formado pela prega na manga do vestido de Cecília chama atenção, principalmente devido ao contraste do forro amarelo com o tecido interno vermelho. Seu decote, pode ser dito como quadrado, remetendo aos padrões geométricos da arte clássica.
Contemporaneamente, comparando uma produção de moda, por exemplo, à estética clássica, podemos perceber alguns pontos de intercessão entre essas características do passado, e do presente.
Usando uma produção da grife Tigresse (marca paulista inaugurada em 2009 por Renata Figueiredo que utiliza basicamente fibras naturais como linho, seda e algodão e começou no mercado vendendo t-shirts) Primavera/ Verão 2011 como referência, é possível analisar diversos aspectos em comum com a antiguidade, até mesmo com o quadro de Da Vinci.
As mulheres como centro remetem, assim como no quadro de Da Vinci, o homem como elemento principal e central. Há relação entre as modelos e a natureza, com folhagens, grama e flores no fundo; como um cenário, ligando a produção diretamente ao naturalismo.
A leveza dos tecidos também é um ponto ressaltado na produção, que remete imediatamente a antiguidade, assim como as cores das roupas: azul, ocre, marfim. As diversas texturas dos tecidos e os traços orgânicos reforçam ainda mais esse link antiguidade/presente. O equilíbrio transmitido pela foto, por fim, dá ainda mais ênfase ao link da estética clássica à produção contemporânea.
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