segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Teoria Platônica da Beleza ( Ariano Suassuna) - Resumo Capítulo III


1- O Mundo das Idéias Puras

Estudar a beleza é tocar em todos os problemas da Estética, que pode ou não ser abordada filosoficamente (fato que os irracionalistas negam). Tentaremos aqui, pressentir a essência da beleza.
Vamos encontrar nas primeiras indicações a respeito da Beleza na obra de Platão. Para ele, dentro de sua grandiosa visão idealista do mundo e do homem, a beleza de um ser material qualquer depende da maior ou menor comunicação que tal ser possua com a Beleza Absoluta, que subsiste, pura, imutável e eterna, no mundo supra-sensível das idéias.
Platão via o universo como dividido em dois mundos: o mundo em ruína e o mundo em forma. O nosso mundo, este mundo sensível que temos diante de nossos olhos, é o campo da ruína, da morte, da feiúra e da decadência. O mundo autentico, o mundo em forma do qual o nosso recebe existência e  significação, é aquele mundo das essências, das idéias puras. A Verdade, o Bem e a Beleza são essências superiores, ligadas diretamente ao Ser.

2- A Reminiscência

Segundo Platão, a alma é invencivelmente atraída pela Beleza, pois sua pátria natural é o mundo das essências, e , exilada neste nosso mundo, ela sempre sente saudade do outro. A alma humana, eterna, sofre decadência a se unir ao corpo material. Por isso, a alma sabe tudo e se nós não a acompanharmos nesse conhecimento é porque nossa parte material e grosseira faz com que nós nos esqueçamos da maior parte daquilo que a alma sabe, por ter contemplado já, a Verdade, a Beleza e o Bem absolutos. Existem almas mais aptas do que outras a se recordar das verdades e belezas contempladas anteriormente. Assim, quem se dedica à Beleza, não a recria na Arte; quem se dedica à Verdade, não a descobre, pelo conhecimento: tanto num caso como no outro, o que acontece é que a alma recorda-se das formas e verdades contempladas no mundo das essências, antes que a alma se unisse ao corpo.

3- “O Banquete” e “O Fedro”

São os diálogos platônicos que mais se referem a beleza. No primeiro, chamado “discurso de Sócrates” explica, quase que de modo definitivo a teoria platônica da Beleza. Segundo Platão, somente os indivíduos inferiores ficam satisfeitos com a forma mais grosseira de amor, a do amor físico. O homem que deseja contemplar e se unir à Beleza começa por essa forma primitiva de amor, apaixonando-se e desejando um corpo belo. Se ele é porém, um  homem superior ele em breve descobre que a beleza existente naquele corpo é ímã da beleza de outro corpo, o que leva a conclusão de que a beleza de todos os corpos é uma só. Por isso, o amador deve  assar amar não os corpos, mas a beleza existente neles, contemplada desinteressadamente.

4- O Caminho Místico

O próximo estágio será aquele que se considera a beleza da alma superior à beleza do corpo. O amador descobre que a beleza corpórea é sujeita à ruína e a decadência, enquanto a beleza moral resiste ao passar do tempo. Assim, a beleza corpórea passa a ser vista como pouco digna de estima.

5- A Beleza Absoluta

O amante torna-se um prisioneiro voluntário no “imenso oceano da beleza”. Com o tempo, estará atingindo o estágio final que é possível ainda aqui na terra. O amante verá, assim, a Beleza eterna, que não nasce nem morre, que não aumenta nem diminui; que, além disso, não é em parte feio e em parte belo e nem belo ou feio em comparação a algo, belo aqui, feio ali,  belo para uns, feio para outros. Conhecerá a Beleza que não se apresenta como rosto, ou como qualquer outra coisa corporal, nem como palavra, ciência, nem como alguma coisa que exista em outra. Beleza, ao contrário, que existe em si mesma e por si mesma, sempre idêntica, da qual participam as demais coisas belas. Estas coisa belas, que participam da Beleza Suprema, ora nascem, ora morrem; mas essa Beleza jamais aumenta ou diminui, nem sofre alteração de qualquer espécie.
Assim, pelo caminho do amor, primeiro físico e depois espiritual, o homem pode se elevar da beleza sensível ate a contemplação extática da Beleza Absoluta, a única verdadeira e da qual todas as belezas menores participam.

6- A Reminiscência e o  “Mênon”

Assim , parece lícito afirmar que, para Platão, a Beleza causava, antes de mais nada, enlevo, prazer, arrebatamento, deleitação. Isto leva Maritan a afirmar que “ a sabedoria é amada por sua beleza, enquanto que a beleza é a amada por si mesma”, distinguindo ele que “ a beleza é essencialmente deleitável: por isso, por sua própria essência  e enquanto beleza, move o desejo e produz o amor, enquanto que a verdadeira, como tal, faz somente iluminar”.
Lembrando que para Platão, a contemplação da Beleza era uma recordação. A alma lembra realidades que contemplou numa outra vida (Teoria da Reminiscência). O espírito já viu todas as coisas.
As coisas corpóreas são meras imitações desses modelos ideais; sombras pálidas e grosseiras em comparação com a pureza e luminosidade das essências.



(Resumo do texto “Teoria Platônica da Beleza”,
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 2009)

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