Aristóteles abandona inteiramente o idealismo platônico, no que se refere à Beleza como em outros campos. Segundo seu pensamento (“a filosofia natural do espírito humano”, como chama Bergson) a beleza de um objeto não depende de sua maior ou menor participação numa beleza suprema, no mundo supra sensível das Essências Puras. Decorre, apenas, de certa harmonia, ou ordenação, existente entre as partes desse objeto entre si e em relação ao todo.
Aristóteles afirma claramente, na Retórica, que uma mulher bonita e bem proporcionada, mas pequena, pertence ao campo do Gracioso, mas não ao do Belo, que exige, entre outras coisas, grandeza.
A definição aristotélica de Beleza foi dada de passagem no capitulo VII da Poética. Diz ele:
“A Beleza, seja a de um ser vivo, seja a de qualquer coisa se componha de partes- não só deve ter estas partes ordenadas mas também uma grandeza que obedeça a certas condições”
(Poética, tradução portuguesa de Eudoro de Souza, Lisboa, 1951)
Aristóteles parece ter pressentido que a Beleza incluía várias outras categorias além do Belo.
De acordo com os conceitos expressos na Poética, as características essenciais da Beleza seriam a ordem, ou harmonia, assim como a grandeza. Mas, influenciado pelo conceito grego de Beleza, Aristóteles se preocupa com a medida e a proporção, e é por isso que se refere à grandeza que obedece “a certas condições”:
“O belo consiste na grandeza e na ordem, portanto um organismo vivo pequeníssimo não poderia ser belo, pois a visão é confusa quando se olha por tempo quase imperceptível, e também não seria belo sendo enorme, porque faltaria a visão de conjunto, escapando à vista dos espectadores a unidade e a totalidade”
Essa referência à harmonia das partes de um todo – unidade e totalidade – veio aportar na célebre fórmula dos aristotélicos: “A Beleza consiste em unidade na variedade”.
Para Aristóteles, o mundo, vindo do caos, passou a ser regido por uma harmonia. Mas é como se ainda restassem vestígios da desordem anterior, e parece-nos como se o mundo e os homens estivessem sempre numa luta incessante para levar adiante a vitória incompleta da harmonia sobre o caos. Esta concepção do mundo e da vida é fundamental no pensamento aristotélico.
O conflito entre Harmonia e Desordem
Aristóteles admitia a desordem e a feiúra como elementos aptos a estimular a criação da Beleza, através da Arte.
A grande contribuição de Aristóteles para a Estética foi, primeiro, a de retirar a Beleza da esfera ideal em que a colocara Platão. Isso faz da beleza uma propriedade do objeto, propriedade particular sua, e não recebida como por empréstimo de uma luz superior, como queria Platão.
È sabido que os pensadores antigos excluíam o Feio de suas cogitações sobre a Beleza e a Arte, considerando-o estranho ao campo estético. O Feio, encarado por Aristóteles como uma desarmonia, é então, expressamente incluído no campo estético.
Aspecto subjetivo da Beleza
Ao lado dessa definição objetiva da Beleza, Aristóteles encara as repercussões que ela desencadeia no espírito do contemplador: “Beleza é aquele bem que é aprazível somente porque é bem. Isto é, a Beleza é o objeto que agrada ao sujeito pelo simples fato de ser apreendido e fruído”.
Aqui, Aristóteles examina o espírito do contemplador ao se colocar diante da Beleza, chegando à conclusão de que o prazer estético decorre da simples apreensão -gratuita e sem esforço- do objeto, pelo espírito do sujeito.
A contribuição mais importante de Aristóteles, quanto o a essa parte da essência da Beleza, foi tentar uma definição objetiva dela do ponto de vista realista e sem recorrer à outra coisa para explica-la que não o próprio objeto. Platão e os platônicos, com os olhos fixos apenas no que a Beleza tem de transcendental, viram na beleza das coisas corpóreas sombras da Beleza divina. Aristóteles plantou os pés na terra, e olhou para as coisas. Foi mal entendido pela maioria, que viu no seu pensamento alguma coisa que ele nunca afirmou: por exemplo, que a Arte devia imitar estreitamente a vida, sendo o realismo um “verismo” dogmático e mesquinho.
Pontos Fundamentais do Pensamento Aristotélico
Assim, resumindo, pode-se dizer que, para Aristóteles, a Beleza é uma propriedade do objeto e consiste, principalmente quando aparece como Belo, na harmonia das partes de um todo que possua grandeza e medida. As três características principais da Beleza, são, portanto, harmonia, grandeza e proporção. A fórmula que traça as fronteiras da Beleza é “a unidade na variedade”.
A arte é, mais, um depoimento do mundo, contido numa outra realidade, transfigurada. A realidade contém verdades tão altas e nobres quanto as que o idealismo pressente, transferindo-as porém exclusivamente para o mundo superior das essências.
O mundo é regido por uma harmonia que se reencontra na Arte e no conhecimento. O pensador - seja cientista ou filósofo- procura encontrar na realidade os rastros dessa harmonia, os quais evidenciam, através de relações, as leis do mundo. O artista procura recria-las num universo em que a realidade se reconheça, transfigurada.
(Resumo do texto “Teoria Aristotélica da Beleza”, Xerox entregue em sala de aula.
SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 2009.)